Coluna Fragmentos: Romário Martins e o Paranismo | aRede
PUBLICIDADE

Coluna Fragmentos: Romário Martins e o Paranismo

A coluna ‘Fragmentos’, assinada pelo historiador Niltonci Batista Chaves, publicada entre 2007 e 2011, retorna como parte do projeto '200 Vezes PG', sendo publicada diariamente entre os dias 28 de fevereiro e 15 de setembro

Em 26 de junho de 1957, o JM publicou um texto assinado por Raul Gomes no qual o cronista reverencia a figura de Romário Martins, o precursor do paranismo
Em 26 de junho de 1957, o JM publicou um texto assinado por Raul Gomes no qual o cronista reverencia a figura de Romário Martins, o precursor do paranismo -

João Gabriel Vieira

@Siga-me
Google Notícias facebook twitter twitter telegram whatsapp email

Em 1953 o crítico literário Wilson Martins publicou “Um Brasil Diferente”, um dos mais importantes livros já escritos no Paraná. Nessa obra, Martins recupera uma série de valores que se originaram com um dos mais significativos movimentos literários e culturais que o estado já conheceu: o Paranismo.

A origem do paranismo está relacionada ao contexto histórico que se estende desde os meados do século XIX – momento em que o Paraná foi oficialmente criado – até as primeiras décadas dos Novecentos, quando as principais cidades do estado – leia-se Curitiba e Ponta Grossa – entraram em uma fase de modernização intensa.

Quando se emancipou de São Paulo, em 1853, o Paraná não possuía uma ocupação efetiva de seu território, tampouco, uma definição clara de seus limites e fronteiras. Logo as autoridades e intelectuais paranaenses perceberam que era necessário “forjar” uma identidade própria para o estado.

Em fins do século XIX, Romário Martins, um jovem e promissor escritor paranaense, atuava como redator da Revista do Clube Curitibano, um órgão literário que representava as elites políticas e econômicas da capital paranaense. Esse contato do hábil literato com lideranças políticas, sociais e intelectuais o motivou a criar um pensamento tipicamente regional: o paranismo!

A glorificação de valores locais e a concepção de toda uma simbologia com base em elementos tipicamente paranaenses (como o pinhão e o pinheiro) serviram de estímulo para a disseminação de um “espírito paranaense”.

Para Romário Martins, paranista era “todo aquele que tem pelo Paraná uma afeição sincera, e que notavelmente demonstra em qualquer manifestação de atividade digna, útil a coletividade paranaense. Paranista é aquele que em terras do Paraná lavrou um campo, cadeou uma floresta, lançou uma ponte, construiu uma máquina, dirigiu uma fábrica, compôs uma estrofe, pintou um quadro, esculpiu uma estátua, redigiu uma lei liberal, praticou a bondade, iluminou um cérebro, evitou uma injustiça, educou um sentimento, reformou um perverso, escreveu um livro, plantou uma árvore.” Ou seja: o fundamental não era ter nascido no Paraná, mas uma vez no estado, produzir algo de útil.

Nessa construção idealizada por Romário Martins, o Paraná foi apresentado como sendo um Brasil diferente, uma vez que conta com um clima frio europeu (não tropical) e tem no caboclo, resultado da miscigenação entre os nativos da terra, portugueses colonizadores e imigrantes europeus (e não no mulato), a base de sua população. Essas características – naturais e humanas – dariam condições ao Paraná de se colocar adiante de outros estados brasileiros. Desta forma, a idéia de um “futuro venturoso” ocupou lugar central na construção discursiva paranista.

Logo as idéias defendidas por Romário Martins se espalharam e ganharam força, fazendo com que um grupo de intelectuais e artistas paranaenses – entre os quais estavam Rocha Pombo, Nestor Victor e Dario Vellozo – passasse a reproduzir o ideário paranista com o objetivo de “criar” ou “inventar” o Paraná no imaginário coletivo a partir do desenvolvimento de um sentimento de pertença e do fortalecimento de uma identidade regional. 

No centenário do Paraná, em 1953, coube ao escritor Wilson Martins recuperar o conjunto de idéias concebidas pela primeira geração dos paranistas, calcadas no ufanismo, na projeção de um futuro venturoso e na convicção da qualidade do povo (predominantemente branco) existente no Paraná. 

Nas últimas décadas, literatos, sociólogos e historiadores promoveram uma revisão nas ideias nascidas com Romário Martins e retomadas por Wilson Martins nos meados do século XX. Apesar das críticas possíveis (sobretudo no que diz respeito ao perfil branco da população) a influência do paranismo ainda se faz sentir em diversos círculos políticos, intelectuais e acadêmicos paranaenses.

.

O material original, com mais de 170 colunas, será republicado na íntegra e sem sofrer alterações. Por isso, buscando respeitar o teor histórico das publicações, o material apresentará elementos e discussões datadas por tratarem-se de produções com mais de uma década de lançamento. Além das republicações, mais de 20 colunas inéditas serão publicadas. Completando assim 200 publicações.

Publicada originalmente no dia 15 de novembro de 2009.

Coluna assinada por Niltonci Batista Chaves. Historiador. Professor do Departamento de História da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Doutor em Educação pela Universidade Federal do Paraná.

PUBLICIDADE

Conteúdo de marca

Quero divulgar right